Alguma vez você já se sentiu vulnerável?
Já se sentiu frágil? Fraco? Ameaçado? Desconfortável?
A maioria de nós não gosta de se sentir assim, não é verdade? É difícil lidar com este sentimento. É uma sensação que nos incomoda, que nos envergonha.
A palavra vulnerável tem sua origem no latim: vulnerabilis, “que pode ser ferido ou atacado”, vulnerare, “ferir”, vulnus, “ferida ou lesão”. No Dicionário Houaiss vemos que vulnerável é um adjetivo que significa “sujeito a ser atacado, derrotado, frágil, prejudicado ou ofendido”.
Nos sentimos vulneráveis em momentos de incerteza, risco e exposição. Como já visto anteriormente o medo é uma reação involuntária e natural com a qual o ser humano convive ao longo da sua vida. Medo é um estado afetivo e emocional necessário para que nos adaptemos ao meio que nos cerca. Normalmente surge quando ocorre um estímulo que cause no indivíduo ansiedade, angústia e insegurança.
O problema surge quando evitamos situações e relações que sabemos que provocarão esse sentimento. Muitas vezes tendemos a fugir daquilo que seria o assunto mais espinhoso e que é verdadeiramente o conflito. Isto leva a um ambiente ou relação de pouca confiança. Uma relação na qual não se fala de coisas importantes para não causar desconforto. O resultado é comunicação falha, propensa a mal-entendidos e com pouco espaço para a sinceridade.
O medo de errarmos, de sermos criticados, julgados ou ridicularizados também contribui para este quadro. É um problema cultural: De forma geral, não lidamos bem com o que nos parece fraqueza. Não podemos demonstrar emoção, pois isto está ligado à instabilidade e à perda de controle. Temos medo de deixar nosso verdadeiro “eu” ser visto e conhecido. Como resultado tentamos sustentar uma imagem de segurança e autossuficiência que faz com que percamos nossa própria essência. Idealizamos um comportamento racional, o que é simplesmente impossível. Nos tornarmos cavaleiros presos em nossa própria armadura.
Mas… e se você olhasse a sua própria vulnerabilidade com outros olhos? Essa pergunta também pode ser feita de outras maneiras: E se você deixasse de ser um espectador e passasse a ser o ator principal de sua própria vida? E se você deixasse de ver sua vida passando pela janela? E se você efetivamente passasse a se arrepender das coisas que fez e não das coisas que deixou de fazer? E se você tomasse as rédeas da sua vida? E se…?
Viver é experimentar riscos, incertezas e se expor emocionalmente e isto não precisa _ e nem deve! _ ser uma coisa ruim. Quando fugimos de emoções como medo, mágoa e decepção, também nos fechamos para o amor, para a criatividade e para a aceitação. É justamente por isto que aqueles que se defendem de todas as formas dos fracassos e dos erros se frustram e se distanciam das experiências marcantes que dão significado para a vida. Por outro lado, aqueles que se abrem para coisas novas e se expõem são mais autênticos e realizados. Ter coragem para arriscar, viver experiências novas, dizer coisas importantes, tudo isso implica em encarar e abraçar a vulnerabilidade.
Como fazer isto?
Um dos primeiros passos é procurar entender nossa própria relação com a vulnerabilidade. Aprendemos com nossas experiências desde cedo e nem sempre nos damos conta de como agimos e pensamos (Na verdade não nos damos conta, mas isto é assunto para outro post…). Uma forma de fazer isto é olharmos para nós mesmos e tentarmos analisar situações em que ficamos irritados ou frustrados e tentarmos entender os pontos comuns entre elas. Compreendendo melhor essa dinâmica fica mais claro definir e entender o que nos atinge em cada situação e aceitar nossas emoções. Consequentemente, ficamos menos reféns do medo de enfrentá-las.
Isso passa também pela forma como lidamos com as falhas. Ao não aceitarmos falhas e ficarmos apenas buscando culpados (em nós mesmos ou nos outros), dificultamos nossa capacidade em assumir riscos e nos envolvermos. Em outras palavras, dificultamos a conexão e a sintonia com os outros.
Conexão e sintonia são palavras-chave.
Para Aristóteles, o homem é um sujeito social que, por natureza, precisa pertencer a uma coletividade. Somos, portando, animais comunitários, gregários, sociais e solidários. Temos necessidade de aceitação e pertencimento.
Em seu livro Inteligência Social: O poder das relações humanas, Daniel Goleman estuda como as mais recentes descobertas em biologia e neurociência confirmam que somos programados para encontrar sintonia e que nossos relacionamentos moldam nossa biologia bem como nossas experiências. Ele escreve: “Quanto mais fortemente estamos conectados a alguém, maior é a força mútua”. É por esta razão que precisamos de pessoas por perto que nos aceitem quando falhamos e nos apoiem quando estamos com medo. Quais pessoas são essas? São aquelas com quem temos reciprocidade. Aquelas com quem construímos uma relação baseada em limites e confiança.
Não é à toa que a vulnerabilidade está ligada à coragem. Ser vulnerável é ter a coragem de compartilhar as suas experiências e sentimentos com pessoas que conquistaram o direito de conhece-los. Como afirma Brené Brown no livro A coragem de ser imperfeito, no final das contas, forte não é aquele sempre usa a máscara da felicidade absoluta. Forte é aquele que se permite demonstrar o que sente, assumindo erros e feridas. Em um mundo de aparências, em que a segurança, a eficácia e a força são tão valorizados, aquele que se atreve em determinado momento a renunciar à sua armadura de aparente perfeição demonstra uma coragem notável. E o fato de o fazer não demonstra uma derrota, muito menos um ato de fraqueza.
Como diz a música de Gonzaguinha, é preciso “viver sem ter a vergonha de ser feliz”. Cabe a você dizer qual vai ser o próximo passo da sua história.